A seção ‘Histórias Pouco Contadas‘ vem falar da icônica e histórica camisa número 2 da Argentina, toda azul, usada nas quartas de final da Copa de 1986, no fatídico jogo contra a Inglaterra.
Todo mundo lembra dela, né? Qual é o fã de futebol que nunca viu e reviu aquele golaço do Maradona driblando todo mundo, além do famoso gol de mão? A história da camisa é bem curiosa. Vem comigo.
Contexto: muito sol e suor
A copa de 1986, jogada no México, teve seus jogos disputados em horários insanos. Era o início do verão mexicano, e como as transmissões para a Europa precisavam ser em horários que teriam audiência, muitos jogos foram marcados para o meio-dia, sol a pino.
O treinador argentino Carlos Bilardo, já conhecendo essa realidade latina, pediu à AFA e à Le Coq (fornecedora do material argentino), que fizesse uniformes mais leves para aquela Copa. E a empresa foi inovadora: preparou uniformes com a tecnologia Air-Tech, que não retém o suor, com microporos e tecido leve.
A Le-Coq só falhou em uma coisa: fabricou com essa tecnologia apenas os uniformes titulares da Albiceleste.
Chegaram as oitavas de final e a Argentina enfrentaria o Uruguai. Como as cores são as mesmas, o sorteio foi cruel: a Argentina teria que enfrentar seu rival continental com a camisa azul marinho, de algodão.
A Argentina venceu por 1-0, mas houve muita reclamação quanto à camisa. Além do calor, choveu durante o jogo, e os uniformes ficaram muito pesados.
Lá vem os ingleses
No dia 19 de junho, definiram-se as quartas de final: a Argentina enfrentaria a Inglaterra.
Era um clássico que envolvia política: a guerra das Malvinas, confronto entre os hermanos e os ingleses, havia acabado apenas quatro anos antes.
Muitos chamaram aquele jogo de final antecipada, pois o Brasil havia sido desclassificado, a Alemanha não estava tão forte e a Bélgica, que seria adversária nas semifinais, chegava pela primeira vez tão longe em uma Copa do Mundo.
O sorteio definiu que novamente a Argentina teria que usar sua camisa reserva.
Mas Bilardo não aceitaria novamente aquela camisa, não contra os ingleses. Solicitou à Le-Coq uniformes reservas com a mesma tecnologia Air-Tech, mas obteve resposta negativa. Era impossível fabricá-los e enviá-los em apenas 72 horas.
Começou então uma operação de busca: Bilardo deu a ordem a Pedro Moschella, um funcionário da AFA, para que procurasse em todas as lojas da Cidade do México até encontrar camisas azuis mais leves. No outro dia, ele aparece com 4 ou 5 modelos, para análise dos superiores.
Diz a lenda que, quando Bilardo e um dirigente da AFA estavam analisando esse modelo, listrado com diferentes tons de azul, Maradona entrou na sala. E disse: “Essa me encanta. Com ela ganharemos da Inglaterra”. Bom, não havia mais o que discutir, a decisão estava tomada.
Moschella voltou à loja e comprou 38 exemplares daquele modelo. Começou então a busca por costureiras mexicanas. Elas costuraram em todas as camisas o emblema da AFA, sem os louros em cima, e o símbolo da Le-Coq (também bem diferente do original).
Os números foram improvisados em cor prateada, diferente do branco original e no estilo das camisas de futebol americano. Estava pronto o fardamento que ficaria para a história.
O resto da história todos conhecem: um jogo pegado e equilibrado. No início do segundo tempo, Maradona faz o gol de mão, apelidado pelos argentinos como La mano de Dios. E logo depois, define o jogo com o golaço que ficou conhecido como Gol do Século, driblando todo o time inglês.
A histórica camisa 10 improvisada ficou com o zagueiro Steve Hodge, que hoje a guarda em sua casa a sete chaves, e diz que não vende por nenhum dinheiro no mundo.