A seção ‘Clubes e Política’ de hoje vem falar de um clube pequeno, não tão conhecido, mas que demonstra de forma muito clara a relação que faz entre o futebol e a política.
Não se trata aqui de um posicionamento mais à direita ou mais à esquerda, mas sim defender a existência de um território, de uma cultura, de um povo.
Estamos falando do Palestino, time que joga no Chile, aqui na nossa América Latina, mas que defende as cores do território da Palestina, que fica lá no Oriente Médio. Vem comigo que te conto a história.
Origens do Palestino
No fim do século 19, já próximo à virada para o ano 1900, se inicia uma grande migração árabe e de outros povos do Oriente Médio para a América do Sul.
Havia uma promessa de nova vida, em um território novo e hospitaleiro, que poderia criar um novo ambiente para essas culturas, longe de tantos conflitos criados pelo Império Otomano.
Vários aportaram e criaram raízes no Uruguai e em Buenos Aires, mas muitas famílias decidiram também cruzar a Cordilheira dos Andes em mulas para chegar ao Chile e fazer a vida ali. Foi o que fez a grande parte da comunidade palestina que imigrou.
O Chile é, hoje, a maior comunidade palestina do mundo fora do Oriente Médio. Segundo as últimas pesquisas, são quase 500.000 indivíduos de origem palestina vivendo no país andino.
Apesar de sofrer em alguma medida a xenofobia e o racismo, os palestinos conseguiram se adaptar bem à vida chilena.
Como eram muitos artesãos e comerciantes, conseguiram se envolver bem na economia chilena, que tinha essa área, na época, como principal força motriz.
Começaram a aparecer então as comunidades, as associações e os locais de encontro. Em 1920, segundo pesquisas, já havia pelo menos um clube palestino em todas as cidades chilenas. Era natural que um deles se tornasse clube de futebol: e assim surge, já em 1920, o Club Deportivo Palestino, no bairro de La Cisterna em Santiago.
Palestino, um representante da Palestina na América Latina
Foram imigrantes palestinos que fundaram o clube e o time de futebol em La Cisterna. O clube jogou apenas campeonatos amadores até 1952, quando se profissionalizou e passou a disputar a liga chilena.
As cores do time sempre foram as cores da bandeira da Palestina (verde, vermelho e branco) e o clube sempre tentou manter, no estádio e na torcida, esses simbolismos e as manifestações pró-Estado da Palestina.
Conseguiu ganhar dois campeonatos chilenos, em 1955 e 1978, além de 3 títulos da Copa do Chile.
Em 2009, recebeu o patrocínio do banco oficial do Estado Palestino, o Bank of Palestine, e voltou a aparecer em competições internacionais. Ficou conhecido aqui no Brasil por eliminar o Flamengo na Copa Sul-Americana de 2016, vencendo os cariocas por 2-1 aqui no Brasil.
Em 2014, a principal polêmica política: o Palestino lançou um novo uniforme no qual o número 1 simulava o mapa do território palestino antes da criação de Israel.
A comunidade judaica no Chile ficou bastante irritada e organizou vários protestos contra o clube, que acabou sendo multado pela Federação Chilena em 1.300 dólares.
Palestino atualmente
Hoje o Palestino mantém o time modesto, mas conseguiu se fixar na primeira divisão chilena e frequenta as competições continentais. Mas a sua posição política ainda continua sendo maior e mais importante do que apenas um time em campo.
Trata-se de fato de um time que representa um país, e não só isso, a ideia de que esse país seja livre para formar seu Estado e ter autonomia e soberania cultural, política e territorial. Tudo isso jogando bola, e aqui no Chile.
O clube não é fechado: aceita jogadores de qualquer raiz e cultura. Mas a diretoria nunca deixou de ser formada efetivamente por descendentes palestinos, e assim é até hoje.
O Chile é um país bem sensível à questão palestina, em que acontecem muitos movimentos e manifestações a favor do Estado Palestino. E o clube serve sempre como um local de encontro, de organização e divulgação dessas movimentações sociais.
Como disse o presidente da Federação Palestina no Chile, Anuar Majluf: “O Palestino envolve muita emoção e representa um povo inteiro que não tem voz. Manter a identidade palestina viva através do esporte, levantar a bandeira palestina no continente por meio do esporte, é algo simplesmente maravilhoso”.
É o futebol e a política, amigos, em sua relação mais explícita.