QUEM FOI CARLOS KAISER
Carlos Kaiser é um porto alegrense nascido no dia 2 de julho de 1963, mas que cresceu no Rio de Janeiro. Desde muito cedo demonstrava algum interesse por futebol, assim como a maioria das crianças aqui no Brasil.
Com pouco mais de 10 anos ele passou em uma peneira do Botafogo e a pressão em se tornar um grande jogador começou. A família de Carlos era um retrato da realidade brasileira: poucos recursos e muitas contas para pagar. Ele precisava ser jogador para ajudar na renda de casa e mudar os rumos de seus familiares. Mas, na verdade, ele não queria ser jogador e a pressão exercida sobre o garoto tirava ainda mais a vontade de seguir como profissional. Contudo, ele não comunicou ninguém sobre seu desejo de não ser jogador e acabou ficando na base do clube da estrela solitária.
HISTÓRIA NO FUTEBOL PROFISSIONAL
Foi ficando, foi ficando e, para sua surpresa, despertou interesse de olheiros da base do Flamengo e ele aceitou o desafio. Jogou no ninho do urubu até 1977, quando retornou para o Fogão e subiu para o time profissional. Mas, como profissional, a história era diferente e uma hora a cobrança chegaria. Foi, então, que sua tática entrou “em campo”.
O atacante sempre foi um rapaz fácil de se relacionar, fazia amigos rapidamente, tinha um sorriso fácil e uma lábia fora do comum. Mais agradável que Kaiser impossível, ele era um poço de carisma e cativava todos ao seu redor.
TÉCNICAS PARA NÃO JOGAR
No clube carioca ele vivia lesionado, não saia do departamento médico. Hoje seria fácil detectar que ele não tinha lesão, mas há 50 anos a tecnologia era bem limitada em comparação com os dias atuais. Não havia maneiras de desmenti-lo.
Para que a equipe técnica e diretores não desconfiassem de nada, ele precisava mudar de clube constantemente e, pasmem, isso funcionou durante 26 anos.
Uma das histórias mais bizarras, é que seu grande amigo Renato Gaúcho o levou para o Flamengo e lá, sem jogar uma partida sequer, conseguiu um contrato internacional e foi parar no Puebla, do México. Isso porque pendurado em sua cintura vivia um telefone de brinquedo, o qual ele usava para fingir negociações com clubes europeus semanalmente.
E a farsa não parou por aí. Ele passou por El Paso Sixshooters, dos Estados Unidos, Bangu, Ajaccio, da França, Fluminense, Vasco da Gama, Louletano, de Portugal, e América do Rio.
COM O TEMPO, A DESCULPAS FORAM SE APRIMORANDO…
Na década de 80 começou a tal febre de fazer DVD’s dos melhores lances dos atletas para enviar aos clubes e dirigentes. Ele se aproveitava da falta de informação da tecnologia da época e enviava os seus, mas de treinamento e momentos de amizade com grandes jogadores brasileiros: Carlos Alberto Torres, Ricardo Rocha, Moíses, Tato, Renato Gaúcho, Ricardo Rocha, Romário, Edmundo, Gaúcho, Branco, Maurício entre outros…
E quando contratado, a desculpa quase sempre era a mesma: assinava contratos curtos (em média de seis meses) e dizia que não estava em condições de jogo, portanto, precisava treinar algumas semanas antes de sua estreia para ganhar ritmo.
Outro grande método de Kaiser era “ser notícia”. Ele tinha muito contato com jornalistas e seu nome sempre estava em evidência. Enquanto atuava pelo Puebla, m artigo foi escrito dizendo que ele vivia grande fase no clube mexicano e, por isso, ganharia a cidadania mexicana.
Ele foi um gênio da comunicação.
O ponto alto de sua “carreira”, é um suposto título mundial de clubes de 1984 pelo Independiente, da Argentina, fato negado pelo clube até os dias de hoje. Havia um Carlos Enrique no plantel do clube argentino, nascido no mesmo ano que Kaiser, mas era lateral esquerdo.
A BRIGA COM TORCEDORES
A farsa quase acabou em 1989, quando quase entrou em uma partida, não fosse sua inteligência. Enquanto jogador do Bangu, o presidente Castor de Andrade exigiu que o atacante fosse relacionado para uma partida. Perdendo de 2×0, o técnico Moisés pediu que Kaiser fosse para o aquecimento, ao lado da torcida do Bangu, que xingava os jogadores, técnico e o presidente. Ao ouvir as provocações, ele partiu para cima da cima e acabou expulso. Quando questionado pelo presidente sobre ataque, ele disse que os torcedores haviam insultado Castor e que ninguém faria isso diante dele, pois ele considerava Castor um segundo pai. Bingo! Mais seis meses de contrato depois do acontecido.
O FIM DE SUA CARREIRA
Durante seus 26 anos de carreira. Kaiser, jogou somente 13 partidas. Doze pelo América e uma pelo Bangu, marcando um gol pelo time de Moça Bonita. O atacante encerrou sua carreira aos 39 anos, quando atuava pelo Ajaccio, clube francês da segunda divisão.
Sua história virou filme, e não era para menos: “Kaiser: The Greatest Footballer Never to Play Football”