Depois de falar de Celtic e Rangers aqui nesta seção, continuamos no Reino Unido para falar do Linfield FC, de Belfast, capital da Irlanda do Norte.
Origens do Linfield
Ainda em tempos de Irlanda unida, trabalhadores protestantes do Moinho Linfield fundaram, no norte do país, em 1886, o clube de futebol com o nome da empresa que representavam. A intenção era ter um clube esportivo para protestantes e que representasse o Norte do país, conhecido como Ulster.
Seguindo as tradições de sua religião, a cor escolhida foi o azul, cor da realeza, assim como dos seus colegas protestantes escoceses do Rangers. O time teve sucesso imediato, sendo campeão em 5 das 8 primeiras edições da Irish League.
Chegou o ano de 1918 e com ele a guerra da Irlanda. A separação do sul, de maioria católica, criou cicatrizes e transformou a torcida do Linfield em defensora radical da unidade religiosa e política de seu novo Estado, a Irlanda do Norte.
Mas houve um clube que os desafiou: o Belfast Celtic. A comunidade católica que não quis sair de Belfast adotou o clube verde como seu representante. E criou uma das grandes rivalidades da história do futebol.
A rivalidade foi acirrada até o clube verde chegar ao fim em 1949, depois de uma confusão generalizada causada por torcedores do Linfield. Contamos essa história ontem na seção “Histórias Pouco Contadas”, não deixe de ler!
Evolução e posicionamento
Mesmo após a guerra irlandesa, a guerra campal contra o Celtic e o fim da Segunda Guerra Mundial, a radicalidade do Linfield continuou.
A política de não contratar católicos continuou até a década de 1990. O clube foi ter seu primeiro capitão católico apenas em 2011, e ainda assim com muita resistência de parte de sua torcida.
Como na Escócia, a questão religiosa se torna também questão política. Tanto o clube como sua torcida são vistos como defensores da união do Reino Unido, do qual ainda fazem parte (A Irlanda, vizinha, é uma república independente), e são seguidores fiéis da família real e da monarquia.
Sua torcida oficial é adepta declarada do Movimento Unionista, e a posição política dos torcedores veio se deslocando, com o tempo, do Partido Unionista do Ulster (UUP), que é moderado, para o Partido Unionista Democrata (DUP), de linha mais dura e extremista.
De fato, o clube, que muitas vezes ganha manchetes mundiais por ser o “maior campeão do mundo” (225 troféus no todo – um recorde – e 55 campeonatos nacionais, maior número do mundo junto com o Rangers), às vezes divide essa cobertura midiática com suas ligações com a extrema-direita.
Em Junho desse ano, a última polêmica. O clube lançou seu uniforme reserva nas cores roxo e laranja, as mesmas cores da UVF (Ulster Volunteers Force), um grupo paramilitar que, segundo reportagens da mídia norte-irlandesa, já foi responsável por mais de 500 mortes de pessoas de diferentes religiões.
Esse é o Linfield FC, dono do futebol da Irlanda do Norte, mais uma parte do complexo tabuleiro político do futebol na Grã-Bretanha.