A seção ‘Clubes e Política‘ volta nesse domingo para falar de mais uma ligação entre um clube e um posicionamento político. Hoje nosso protagonista é o Independiente da Argentina, o maior campeão do Copa Libertadores da América, com 7 títulos.
A cor vermelha, ou “roja”, não mente: o clube tem origens e ações mais vinculadas à esquerda no espectro político.
Origens do Independiente
O Independiente foi concebido em agosto de 1904 por um grupo de trabalhadores, ou “obreros”, que trabalhavam na tenda “A la Ciudad de Londres”, no cruzamento da famosa Av. De Mayo com a Calle Perú, no centro de Buenos Aires.
Começou oficialmente suas atividades em janeiro de 1905, tendo como primeiros diretores esses jovens trabalhadores, ideologicamente socialistas, comunistas e anarquistas, simpatizantes do Partido Socialista argentino, que tinha surgido poucos anos antes.
Depois de mudar algumas vezes de endereço, passando pelo bairro de Monserrat, o Independiente fincou raízes em Avellaneda, bairro periférico de Buenos Aires.
E os seus associados eram mesmo essa classe social mais pobre: trabalhadores, filhos de comerciantes, gente humilde. Entre eles, se destacava Julio Felix Mantecón, que assumiu como Secretário-Geral do clube em 1908 e ficou por 10 anos no cargo.
Mantecón e a cor roja
Mantecón era militante socialista declarado, sendo que seu irmão, Alejandro, havia sido um dos fundadores do Partido Socialista.
Sua política como mandatário do clube foi bastante progressista para a época e se caracterizou pelo choque com autoridades e também pelas divergências com a AFA (Associação de Futebol da Argentina).
Histórias contam que os dirigentes da AFA reclamavam muito porque Mantecón chegava às reuniões com roupas e sapatos sujos, depois do seu dia de trabalho.
Em 1908, o clube tomou parte abertamente nas eleições presidenciais em favor do Partido Socialista, e foi também neste ano que adotou oficialmente a cor vermelha.
Há uma versão, bem popular, de que a cor seria uma homenagem ao Nottingham Forest, pois alguns diretores foram visitar o clube na Inglaterra e se encantaram. Mas a versão de que foi também uma manifestação política é hoje bem aceita. Na época, o vermelho significava a aurora de uma nova era, simbolizava luta e rebeldia.
Evolução, grandes títulos e a torcida barra-brava
Em 1928, foi fundado o seu estádio, que mais atualmente quis homenagear os deuses do futebol sendo renomeado de Estadio Libertadores da América, já que nas décadas de 1970 e 1980 o Independiente venceu nada mais nada menos que 7 vezes a Copa, sendo até hoje o maior vencedor continental.
Além dos grandes títulos, o clube se destacava, nestes anos, pelo progressismo: ganhou a alcunha de clube popular por diminuir preços dos bilhetes e facilitar a inclusão de sua torcida de trabalhadores no estádio; e foi também o primeiro clube argentino a aceitar a associação, com direito a voto, de mulheres.
Atualmente, o clube segue sua história desta forma, ainda que com alguns percalços: em 2011, depois de alguns tristes casos de racismo cometidos pela torcida, especialmente pelos chamados “barras bravas”, o presidente Javier Cantero assumiu prometendo tolerância zero.
Acabou sendo forçado a renunciar, depois de receber uma carta com o nome de seus familiares, seu endereço e o desenho de uma bomba, que seria direcionada à sua casa.
Episódios tristes como esse também fazem parte da história, mas não desvinculam o clube de suas origens trabalhadoras. Hoje, o presidente do Rojo é Hugo Moyano, peronista da esquerda argentina que foi por 15 anos Secretário-Geral da Confederação Geral do Trabalho na Argentina.
Esse é o Independiente, El Rojo de Avellaneda, lugar de ‘obreros’.
Baldo
Qual a referência dessa informação de que o nome do estádio veio antes do nome da competição? Andei lendo por aí e o que tenho achado diz que só mais recentemente o estádio recebeu esse nome (Libertadores).
Bruno Pedroso
Obrigado pela observação, vc tem razão. Já ajustamos. Abraços!