Já ouviram falar do Afonsinho? Pois é, a história dele é pouco contada. Mas muito interessante, cheia de rebeldia, manifestações e luta por seus direitos.

A história de Afonsinho

O garoto barbudo começou sua carreira no XV de Jaú, mas com 17 anos já chegou ao Botafogo, que era um esquadrão na época (1965). Foi bicampeão carioca, campeão da Taça Brasil, tudo isso junto com Jairzinho, Lula, Zélio e o técnico Zagallo.
O cara era muito bom jogador e chegou até a ser capitão desse grande time. Era adorado pela torcida.

Eis que, já em anos de Ditadura Militar, o técnico Zagallo e a diretoria do Botafogo resolveram pegar no pé dele por conta do cabelo e da barba.

Além disso, ele não era como a maioria dos outros jogadores: era ativo politicamente, costumava se posicionar e era estudante de Medicina, onde participava de movimentos estudantis. Foi aí que a diretoria e o técnico começaram a ver nele um perigo para o clube, pois ele poderia ser considerado um subversivo e o clube ter de lidar com as consequências.

Afonsinho então resolveu ir para uma luta ainda maior: o direito do jogador de futebol de escolher seus destinos.

Afonsinho: o primeiro jogador livre

 

Afonsinho

Afonsinho, o primeiro jogador a ficar livre no futebol brasileiro. Reprodução: Internet

 

A Lei do Passe, na época, colocava todos os direitos do jogador na mãos do clube.

Assim como na sociedade em clima de ditadura, não havia também nenhuma liberdade para o jogador de futebol, todas as decisões sobre seu futuro e carreira cabiam ao clube. A diretoria do Botafogo, e também Zagallo, várias vezes impediram Afonsinho de jogar e o fizeram treinar separado. Só ele tinha coragem de enfrentar Zagallo, que nesta época era o famoso treinador, construtor da seleção de 70, tricampeã do mundo.

Ficou sem jogar ou no banco de reservas por um bom tempo. E como o direito sobre o jogador era só do clube, o Botafogo também se recusava a emprestá-lo ou vendê-lo. Mas ele conhecia seus direitos e lutou. Foi à Justiça Desportiva do RJ pleitear passe livre. Perdeu. Mas, surpreendentemente, no Tribunal Superior, venceu a batalha.
Sim, Afonsinho foi o primeiro jogador no Brasil a obter passe livre. E virou precedente para todos os outros que vieram.

Depois disso, atuou nos outros três grandes do RJ, no Santos e no América-MG.

Virou ídolo contra a ditadura, e até tema de canção de Gilberto Gil. Mas a maior vitória ele já tinha: mostrou que jogador de futebol também pode lutar por direitos.