A História Pouco Contada de hoje vem falar sobre Javier Zanetti e o seu apoio à causa dos zapatistas mexicanos do território autônomo de Chiapas. Vem comigo que te conto.

Contexto

1 de janeiro de 1994. No México, o estado de Chiapas se rebela contra o governo federal. Nesta data, o NAFTA (Acordo de livre comércio entre México, EUA e Canadá) entraria em vigor.
O Exército Zapatista da Libertação Nacional (EZLN) – organização social de guerrilha herdeira do Exército Libertador do Sul do herói Emiliano Zapata, que lutou pela reforma agrária e contra o governo na década de 1910 – entra em cena como protagonista da revolta.
O argumento era de que a privatização e a instauração do neoliberalismo resultantes desse acordo era uma sentença de morte para quem puxava a corda na parte mais fraca: os pobres e os indígenas do México.

Crianças zapatistas com a camisa da Inter de Milão
Fonte: IBWM

Zapatismo e o futebol

Além de sua força e do idealismo, algo que caracterizava os zapatistas era a paixão pelo futebol.
Com a experiência desse estado autônomo em Chiapas, chegou-se a criar uma seleção própria que fez alguns jogos no México, em locais em que havia simpatia pela causa.
Com o tempo, o conflito arrefeceu e o governo voltou a controlar o estado, mas pelo menos 400 mil pessoas seguiram e seguem ainda hoje vivendo sob uma política autogestionária e autônoma.

Time do Exércio Zapatista de Libertação Nacional (EZLN)
Fonte: Fairplay

Saltamos para 2005. Certo dia, um dirigente da Internazionale de Milão, Bruno Bartolozzi, voltou de uma viagem ao México e comentou sobre o sofrimento dos povos indígenas e pobres do país latino com os argentinos Javier Zanetti e Esteban Cambiasso, que então jogavam na Inter.

Os jogadores tornaram-se simpáticos à causa e de alguma forma houve comunicação entre Zanetti e o líder do Exército, conhecido como subcomandante Marcos.

Mural no território autônomo de Chiapas. Os dizeres trazem a frase “Liberdade pelo futebol”. A obra é do grande artista Banksy.
Fonte: CronicasDeIzquierda

Zanetti, mais um para a causa

Javier Zanetti, para contextualizar, é originário de Dock Sud, bairro pobre de Buenos Aires e é filho de trabalhadores imigrantes italianos.
Teve infância bem difícil e, ao enriquecer com o futebol, sempre se preocupou com questões sociais, inclusive criando a fundação PUPI, que ajuda crianças em situação de vulnerabilidade na Argentina.
Pois bem: ao saber dos ideais zapatistas de reforma agrária e de incentivo ao esporte, não se fez de rogado.
Conversou com seus companheiros de Inter e até mesmo com colegas do rival Milan e juntos decidiram que a caixinha, aquele dinheiro arrecadado através de multas por atraso e mau comportamento, seria doado ao EZLN para que pudessem construir um hospital e uma escola no território autogestionário de Chiapas.

Zanetti com a taça da Champions League de 2010
Fonte: goal.com

Zanetti enviou também, junto com o dinheiro, camisas suas, bolas, chuteiras e vários equipamentos esportivos.

Junto com tudo isso, uma carta, com os dizeres: “Como vocês, acredito num mundo melhor, um mundo não globalizado, enriquecido pelas nossas diferenças culturais e pelos costumes de todos os povos. É por isso que nós vos queremos apoiar nesta luta, pelas vossas raízes e pelos vossos ideais”.

Nada surpreendente para o cara que, ao fim de sua carreira cheia de títulos vencidos e perdidos, disse que sua maior decepção era não ter conseguido ajudar Adriano a sair da depressão. Um verdadeiro capitão.
Em 2012, a Internazionale criou uma clínica de futebol no território de Chiapas. E, em homenagem, o time do EZLN passou a se chamar “Inter”
Viva Zanetti. E Viva Zapata!

Representantes do EZLN mostram a camisa de Zaneeti recebida.
Fonte: Repubblica.it