O Histórias Pouco Contadas de hoje chega em clima olímpico.
O ano é 1936 e estamos nas Olimpíadas de Berlim. Adolf Hitler havia assumido o poder em 1933, e via as Olimpíadas como uma oportunidade de espalhar pelo mundo a ideia da pureza ariana alemã e fazer propaganda para seu governo.
Alemanha x Noruega: derrota em pleno estádio Olímpico
No atletismo, o odioso Führer acabou humilhado pela vitória de Jesse Owens, negro, bem embaixo de seu bigode. Mas essa é a história mais famosa. Há outra, uma história pouco contada, que envolve o futebol naquelas Olimpíadas.
A Seleção da Alemanha vinha forte, querendo vencer seu primeiro ouro olímpico no futebol. Até por isso, nas oitavas de final os alemães humilharam a seleção de Luxemburgo por 9-0.
Essa vitória fez com que Hitler e sua cúpula decidissem ir ao estádio assistir ao jogo das quartas de final contra a Noruega. A previsão era de outra vitória dominante.
De fato, entre os 55.000 espectadores que lotaram o PostStadiun de Berlim, estavam Hitler, Göring, Goebbels e Rudolf Hess: os líderes do nazismo.
Mas nada aconteceu como esperado. A Noruega, que ainda não era o país rico que é hoje, mandou uma seleção não profissionalizada. Eram trabalhadores das minas, dos portos e das refinarias petrolíferas do país nórdico. Dentre eles, um estivador chamado Odd Frantzen.
O cara simplesmente acabou com o jogo.
Sob os olhares incrédulos de 55.000 alemães e da liderança nazista, a Noruega fez 2-0. Os dois gols foram marcados por Isaksen, mas o grande personagem foi o ponta-direita Frantzen, que participou dos dois gols e criou quase todas as jogadas de ataque norueguesas, bagunçando a zaga alemã.
O segundo gol, feito já no segundo tempo, fez com que Hitler e seus asseclas deixassem o estádio antes do apito final. Sim, um grupo de estivadores e petroleiros noruegueses mandou Hitler embora para seu palácio mais cedo.
O fim de Odd Frantzen
A Noruega perdeu a semifinal para a campeã Itália e ficou com a medalha de bronze. Mas a história já estava feita.
Infelizmente, o fim da história de Odd Frantzen não é nada feliz. Vindo de uma família pobre e dono de personalidade humilde, não soube lidar com a fama imediata que ganhou em seu país.
Fez parte do grupo que foi à Copa de 1938, mas foram eliminados ainda na primeira fase. O início da Segunda Grande Guerra, em 1939, fez com que o futebol parasse e a carreira de Frantzen acabou. Com isso, Frantzen caiu no alcoolismo. Como se não bastasse, sofreu um acidente de trabalho em um trator no porto e perdeu uma das pernas
Chegou de vez ao abismo do álcool, e a mídia, declarando-o como mau exemplo, decretou seu esquecimento.
Já com 61 anos, em 1977, um garoto bêbado de 25 anos invadiu sua casa para assaltá-lo. Frantzen reagiu e o ladrão acabou matando-o a sapatadas. Por conta do gelo, os noruegueses usam sapatos com calços de aço.
Mas histórias assim não morrem desse jeito: em 2016, a rede de televisão NRK produziu um documentário sobre Frantzen, trazendo de volta à sociedade norueguesa a história desse herói do esporte, destaque daquele time que expulsou Hitler e sua cúpula do estádio de Berlim.
E o reconhecimento continuou: em 2017, foi inaugurada a Praça Odd Frantzen, em Bergen, sua cidade natal. Justíssima homenagem.
Inspiração do texto: Aventuras na História