É uma semana incomum no mundo do futebol. Muitos já homenagearam Maradona, já escreveram, já deram seu testemunho sobre o grande argentino. Mas ainda é impossível não falar dele. E hoje a “História Pouco Contada” do BP também tem ele como protagonista, tentando mostrar um pouco mais do espírito social e carinhoso de Dieguito.
Um pai desesperado clama por Maradona
Estamos em janeiro de 1985. Diego Maradona havia chegado em Nápoles para defender o time da cidade pouco tempo antes, vindo do Barcelona. Era o seu primeiro Calcio com a camisa azul celeste, e o Napoli não estava em uma situação muito boa, ainda tentando se adaptar e construir o time que venceria 2 títulos nos anos seguintes. Mas Maradona já começava a construir sua idolatria em campos italianos.
Nesse contexto, um jogador da equipe, Pietro Puzone, contou aos companheiros sobre uma situação em sua cidade natal: em Acerra, a 15 km de Nápoles, cidade de população pobre, um grande amigo seu tinha um filho com uma doença rara. O menino precisava de uma cirurgia, mas o pai não podia pagá-la. Puzone então questionou os companheiros sobre a possibilidade de fazer um amistoso beneficente para ajudar o pai desesperado.
O time aceitou, mas a diretoria, quando consultada, proibiu o jogo. Alegou não haver data no calendário e que os jogadores precisavam se concentrar no campeonato e evitar lesões. Mas Maradona tinha o espírito subversivo, não costumava baixar a cabeça para ordens superiores. Comovido pela situação, ignorou a proibição e marcou o jogo. Seria no estádio de Acerra, que tinha capacidade para 5 mil torcedores, contra o time da cidade.
O presidente não ficou feliz, mas aceitou. Contudo, fez Maradona assinar um seguro de 12 milhões de liras com uma empresa chamada Floyd, que pagaria o clube em caso de lesão. “Que se foda a Lloyd em Londres. Essa partida deve ser jogada por essa criança”, teria dito Dieguito em sua reunião com a diretoria.
O jogo e a cirurgia do menino
No dia 10 de fevereiro de 1985, o Napoli jogou pelo Calcio contra o Torino, e venceu por 2-1, com Maradona fazendo o gol decisivo. E no dia seguinte, 11 de fevereiro, ele, acompanhado por um time de reservas do Napoli, que não haviam jogado no dia anterior, se apresentou em Acerra para o amistoso.
Onde cabiam 5 mil, teve que caber 12 mil. Havia gente em todos os cantos, nas tribunas, até em árvores. Ao chegar ao campo, Maradona entendeu porque o presidente tinha medo de que ele se lesionasse: o campo não tinha nada de verde, não tinha grama. Era pura lama, por conta do úmido inverno italiano. O time teve que se aquecer no estacionamento. Mas Diego jogou e desfilou toda a sua habilidade. Final, 4-0 para o Napoli, com dois gols de Maradona. No fim do jogo, invasão dos torcedores para abraçar os ídolos, em especial o camisa 10.
O jogo arrecadou 5 milhões de liras, e Maradona e a equipe doaram os 15 milhões que faltavam para que a cirurgia acontecesse.
Eis o que Diego havia dito em uma de suas primeiras entrevistas como jogador do Napoli: “Quero virar o ídolo dos meninos pobres de Nápoles, porque eles são como eu era em Buenos Aires”.
Pois é: Maradona não era de descumprir promessas.