FUTEBOL E GUERRA: A TRÉGUA DE NATAL DE 1914

Na nossa história de hoje, viajamos para dezembro de 1914.

O primeiro grande conflito das nações mundiais, que ficou conhecida historicamente como Primeira Guerra Mundial, já estava em seu auge, depois de 6 meses do seu estopim. As forças alemãs tentaram atacar Paris e foram repelidas. Formaram posição defensiva em território belga, próximo à cidade de Ypres.

As linhas francesas avançaram, com apoio dos Aliados ingleses e russos. Mas chegaram em um impasse: não conseguiam passar pelas linhas de frente alemãs, que por sua vez não recuaram mais. Construíram-se as trincheiras e o conflito durou vários dias.

Até que chegou o dia 24 de dezembro, dia de Natal. Alguns batalhões enviaram cartas a seus comandos pedindo um armistício. Até o então Papa, Bento XV, pediu que houvesse uma trégua no conflito. Mas os comandantes, no conforto de seus sofás, decidiram que não aconteceria.

Desobediência

Mas, em um respiro de humanidade frente a um conflito tão horroroso, os soldados nas trincheiras de Ypres decidiram que era hora de parar um pouco, recolher seus mortos e confraternizar.

Na noite do dia 24, os alemães colocaram velas nas trincheiras e começaram a entoar suas canções. Foram então acompanhados por franceses e ingleses, cada povo cantando canções natalinas em sua língua natal.

Na manhã seguinte, o clima era de confraternização. Árvores de Natal foram montadas, trincheiras decoradas e alguns soldados mais corajosos até se aproximaram dos inimigos para trocar bebidas e cigarros. Era um acordo de cavalheiros natural.

O futebol em meio à paz na guerra

E é claro que o futebol também participou desse momento de humanidade frente ao horror. Alguns historiadores divergem nessa questão, mas os registros de cartas dos veteranos mostram que sim, partidas de futebol aconteceram, na chamada Terra de Ninguém, pedaço do território considerado sem dono.

Alguns dizem que uma bola apareceu, mas a maioria dos registros diz que foi uma pelota improvisada com latas de comida e trapos velhos. Alemães e ingleses se enfrentaram no improvisado conflito pacífico.

O historiador americano Stanley Weintraub calcula que pelo menos 100 mil soldados não guerrearam naquele dia. Em alguns pontos do território de conflito, a trégua durou até a virada do ano. Mas foi apenas uma miragem de humanidade.

O conflito continuou até 1918, e nos anos seguintes nenhuma trégua aconteceu, pois a guerra se intensificou muito. A humanidade venceu por apenas um dia.

16 milhões de mortos depois, a paz voltou ao mundo. Mas aquela trégua deixou, ainda assim, uma lição: a de que é possível esquecer inimizades e ódio e celebrar a humanidade, nem que seja apenas no dia de Natal.

Em 2014, nas comemorações de 100 anos da Trégua, a UEFA inaugurou o monumento da foto, na cidade de Flanders, na Bélgica. Percebam que há uma bola entre os soldados que se cumprimentam. É um modo de relembrar a trégua e também a participação fundamental do futebol nesse pequeno evento que trouxe momentos de paz em meio ao horror.