Consegue imaginar um estádio com 300 mil pessoas? Mas acredite, aconteceu. Um Wembley novinho em folha, uma decisão e um país louco por futebol: a Inglaterra. Esses poderiam ser os protagonistas, mas o maior deles é um cavalo branco: Billie, que permitiu que o jogo acontecesse. Vem comigo que eu te conto aqui nas Histórias Pouco Contadas.

Contexto: Wembley, um gigante novo em folha

Estamos em 28 de abril de 1923. Depois de quase um ano de obras, surgia um gigante que mudaria para sempre o futebol inglês: o estádio de Wembley, em Londres. Era o maior estádio do mundo com sobras e a sua imponência era impressionante. A inauguração seria em uma ocasião perfeita: a final da FA Cup, a famosa e tradicional Copa da Inglaterra, entre Bolton e West Ham.

Oficialmente, o estádio tinha capacidade para 125.000 pessoas. Devido a esse gigantismo, e apesar de Londres ser, na época, a maior cidade do mundo, a prefeitura e a FA estavam com receio de não conseguir lotar completamente a nova catedral do futebol em sua inauguração.

Por isso, foi feita uma forte campanha de divulgação da partida, focando na participação do West Ham, time londrino, e também no privilégio em participar da inauguração de um templo.

Material de divulgação com o programa do jogo.
Fonte: Imortais do Futebol.

A invasão

O transporte público londrino tinha uma estação ao lado do estádio. A divulgação do jogo chegou também às cidades vizinhas, e o público veio. E foi chegando…e chegando. Um mar de gente. Esperava-se por volta de 100 mil pessoas e o contingente de segurança atribuído para o jogo foi se tornando insuficiente. O jogo começaria às 15h, no horário local, e às 11h30 os portões foram abertos.

Às 13h já se estimava que 125 mil pessoas, a capacidade do estádio, estava em Wembley.

E as pessoas não paravam de chegar. As barreiras que foram montadas para impedir o público de entrar foram destruídas e o esquema de segurança perdeu todo o controle. Foi realmente uma invasão: primeiro às arquibancadas; e depois ao gramado de Wembley. Não era mais possível ver as linhas do gramado e nem as traves. A multidão tomou tudo.

Vista aérea de Wembley no dia da final de 1923.
Fonte: Watchpost.

As estimativas da segurança passaram para 150 mil pessoas presentes. Depois 200 mil. Depois 240 mil. Até chegar à 300 mil pessoas na hora de começar o jogo. O gramado estava tomado. O jogo precisou ser atrasado em uma hora.

Entra em ação ele: o imponente Billie

Não tinha mais como tirar aquelas pessoas dali. A solução então foi a mais simples: liberar o campo de jogo, ao menos, e deixar a partida acontecer com a multidão ali mesmo.

Após o hino nacional, com a multidão mais calma, entraram os policiais cavaleiros e foram abrindo lacunas entre a multidão, buscando abrir o espaço das 4 linhas. Entre eles se destacava o cavalo Billie, o único branco, imponente, que liderava a função de abrir os espaços e fazer as quatro linhas aparecerem.

Billie liberando o campo de jogo
Fonte: British Archives

O jogo aconteceu, mas foi o de menos

Com a ajuda fundamental de Billie, as traves e as 4 linhas apareceram e o campo estava liberado. O público ficou bem ao lado das linhas, de forma que os treinadores das duas equipes precisaram dar ordens para seus times jogarem mais pelo meio e não tanto pelas pontas.

Não tinha como cobrar escanteios na área. Os jogadores precisavam se aproximar e sair tocando a bola, pois não havia espaço para tomar distância.

A multidão influenciou até no primeiro gol do jogo, aos dois minutos do primeiro tempo. O zagueiro do West Ham, Tresadern, foi cobrar um lateral e errou, entregando a bola ao adversário. Ao tentar voltar ao campo, perdeu tempo desviando das pessoas e a defesa ficou aberta para David Jack, do Bolton, avançar e fazer 1-0.

No segundo tempo, o Bolton fechou o placar em 2-0 e foi o campeão daquela FA Cup.

Imagem da final de 1923. Público do lado das traves.
Fonte: Central news.

O time londrino perdeu, mas esse nem foi o principal assunto da semana nos jornais ingleses. Falou-se mais do público, da invasão, do fanatismo pelo futebol e do cavalo Billie, responsável pelo jogo acontecer.

 

Inspiração do texto: Imortais do Futebol.