A situação política no nosso país é tão temerária que novamente temos no centro do debate público ao tema do nazismo – seja pela defesa de um podcaster da existência de um Partido Nazista, seja por um lunático fazendo saudação ao vivo.
O Histórias Pouco Contadas de hoje, nesse contexto, traz uma história que conta sobre um dia em que nazistas receberam o que mais merecem – apanharam, passaram vergonha e ainda saíram de uma Copa do Mundo. Vem comigo que te conto.
Nazistas na Copa de 1938
Estamos em 1938. A Alemanha, já governada por Hitler desde 1933, consegue a classificação para a Copa do Mundo de 1938, que seria disputada na França. Hitler tentava colocar sua ideologia de supremacia ariana no campo dos esportes. Já havia tentado isso nas Olimpíadas de Berlim, mas acabou humilhado pelos medalhistas negros e também no futebol por Odd Frantzen (contamos essa história aqui).
A Alemanha tinha um time forte, mas não o suficiente para vencer os principais adversários. Mas tudo mudou 2 meses antes da Copa. Na sua sanha expansionista, Hitler invade a Áustria e anexa o território austríaco ao infame Reich. Para o futebol, isso significava que agora o treinador alemão poderia convocar jogadores da ótima seleção austríaca, que havia sido quarta colocada na Copa de 1934 e encantava a Europa.
Não deu outra: no time titular alemão, com a nojenta suástica como escudo, havia 5 austríacos. E não eram mais porque o maior craque austríaco, Sindelaar, corajosamente se recusou a vestir o traje alemão.
Naquele ano a Copa não tinha fase de grupos. eram apenas 16 equipes que já entravam nas oitavas-de-finais, mata-mata direto. A primeira adversária da Alemanha era a Suíça, considerada um time fraco. Os alemães eram favoritassos.
Pancada nos nazistas e a grande surpresa
O jogo começou e logo a Alemanha abriu o placar. Mas a Suíça, em um contra-ataque, consegui o empate e segurou o resultado com um ferrolho defensivo incrível. 1-1. As regras não previam prorrogação nem pênaltis, e sim um replay do jogo para dali a 5 dias.
9 de junho de 1938, e o Parc de Princes em Paris estava lotado, com um ambiente bem hostil aos nazistas. O apoio era total aos suíços. No primeiro tempo, porém, a qualidade do time nazista prevaleceu e os alemães abriram 2-0.
E então o que aconteceu, segundo testemunhas oculares do jogo, foi que os suíços pensaram: “Ok, eles vão ganhar, mas sairão machucados”. E passaram a distribuir pancadas nos alemães, sem piedade. Alguns nazistas chegaram a sangrar em campo. Ainda não havia os cartões amarelo e vermelho.
Mas no fim do primeiro tempo, um gol suíço trouxe de volta a esperança. E o estádio se inflamou, todo em apoio aos suíços. E aí, veio outra surpresa: os jogadores austríacos do time da Alemanha pareciam se negar a jogar, impressionados com o fervor do estádio contra os alemães e com a vontade do time suíço.
Um jornalista alemão, após o jogo, escreveu: “alemães e austríacos preferiram jogar um contra o outro até mesmo estando no mesmo time”. E com isso veio o inesperado: a Suíça empatou e depois, ao 30 e aos 33, Abegglen, que já havia feito o gol de empate no primeiro jogo, fez mais e decretou a eliminação alemã: 4-2, de virada.
Alemanha eliminada na primeira fase – o que só se repetiria em 2018 -, envergonhada, e o melhor, toda machucada. 9 de junho de 1938: o dia em que nazistas apanharam: no campo e na Copa.
Fontes: Texto na página do Facebook Futebolchevique, escrito por Carlos Zanatta