INFÂNCIA
José Luis Chilavert nasceu em Luque, pequenina cidade do Paraguai em 1965.
Sua família era de jogadores, seu pai também jogou futebol e um irmão mais velho, Rolando, integrou a Seleção Paraguaia da Copa do Mundo de 1986.
Quando criança, as condições financeiras da família não era das melhores. José Luis precisava trabalhar: quando criança, para juntar algum dinheiro, ordenhava três vacas que a família tinha para vender o leite.
Diferente da maioria das crianças, Chilavert adorava matemática, economia e finanças. Em uma entrevista a TyC Sports, ele revelou que seguiria os caminhos da contabilidade caso não tivesse ingressado no meio futebolístico.
Quando adolescente, ele tentou entrar nas categorias de base do Olímpia, mas foi rejeitado pela comissão técnica, inclusive escutou para ir embora e nunca mais tentar nada no futebol, porque seria perda de tempo.
Mas, foi no time da cidade, o Sportivo Luqueño, que ele iniciou a carreira aos 15 anos, em 1982.
SAN LORENZO
Chilavert começou a ser notado em 84, ao ganhar seu primeiro título, já no Guaraní, quando faturou o campeonato paraguaio. O Atlético de Madrid chegou a mostrar algum interesse pelo goleiro, que demonstrava ótima técnica debaixo das três traves, mas desistiu do negócio por considerar alta demais as exigências do time paraguaio.
E por falar na técnica do arqueiro, o vice-presidente de um dos grandes clube da vizinha Argentina, o San Lorenzo, também quis contar com o passe do paraguaio, que o adquiriu por empréstimo de um ano. Na equipe de Boedo, ele começou a mostrar “quem era”: brigava com goleiros adversários, insultada os árbitros e até com torcedores do próprio time.
Apesar disso, sua técnica com a bola nos pés também impressionava, por ser um goleiro, e lá ele começou a bater falta, mesmo que não tenha marcado nenhum gol.
Apesar da falta de títulos mais expressivos, ele é considerado por muitos o melhor goleiro das últimas duas décadas do clube, idolatria já manifestada ao fim de seu primeiro ano lá: era o momento em que o San Lorenzo precisava pagar ao Guaraní os 120 mil dólares requisitados pela compra definitiva de Chila, mas o caixa da instituição não possuía saldo viável para o negócio. O dinheiro veio da própria torcida cuerva, que tomou a iniciativa de juntar pequenas quantias durante os jogos; logo, o montante exigido foi alcançado e o goleiro foi comprado em definitivo!
O River Plate propôs uma troca com o San Lorenzo em 1988: Chilavert e o colega Darío Siviski iriam para o Monumental de Núñez, enquanto Sergio Goycochea e Néstor Gorosito iriam para os Cuervos.
Porém, uma misteriosa lesão de Goycochea frustrou a negociação em relação aos goleiros, e Chilavert ficou extremamente frustrado em não jogar pelos millonarios, o que criou um mau ambiente gigante dentro de seu clube.
Naquele mesmo ano, ele deixou o San Lorenzo para ser negociado com o futebol europeu, e se transferiu para o Real Zaragoza.
Na Espanha, chocaria os espectadores e imprensa pela primeira vez com suas tentativas de gol.
Ele, que já tinha feito seu primeiro gol pelo Paraguai em 1989, marcou um golaço contra a Real Sociedad, que, em seguida, revidou com outro gol, tão logo a bola foi reposta no meio-de-campo enquanto Chila ainda comemorava voltando para de baixo de sua meta.
Ele foi proibido de bater falta ou pênalti no time espanhol, o que não o ajudou em nada e só trouxe frustração ao paraguaio.
Seu forte temperamento também não era apreciado, muito demonstrado também pelo fato da proibição nas cobranças de falta ou pênalti, e ele deixou o clube no ano seguinte pela porta dos fundos: retornou à Argentina, mas agora para a modesta equipe do Vélez Sarsfield.
Contudo, seria no clube de Liniers que iniciaria a época mais consagrada de sua carreira.
A CONSAGRAÇÃO
Em 1991, Chilavert se tornou uma referência. O goleiro assumiu o protagonismo no time de Carlos Bianchi, que passou a brilhar como nunca no futebol nacional. Durante os anos com o paraguaio, El Fortín tornou-se um gigante. Em 1993, encerrou o jejum de 25 anos sem conquistar o Campeonato Argentino, apenas o segundo em toda sua história. O que deu a vaga na Libertadores de 1994, onde o Vélez deu um passo além. Chilavert fechou o gol e teve papel fundamental na campanha, que deixou para trás Palmeiras, Cruzeiro, Boca Juniors e Atlético Júnior. Até, nos pênaltis, com o camisa 1 pegando a cobrança de Palhinha, os portenhos superarem o bicampeão São Paulo na final. E ainda desbancarem o Milan no Japão, na vitória por 2 a 0 no Mundial Interclubes.
Chilavert acabaria eleito o melhor goleiro do mundo em 1995. Ironicamente, não ganhou taças naquele ano com o Vélez, o que seria compensado em cheio no ano seguinte: tanto o Clausura quanto o Apertura 1996 foram para o Estádio José Amalfitani, assim como a Supercopa Libertadores. O goleiro artilheiro, por sua vez, seria eleito o melhor jogador do campeonato argentino e o melhor da América do Sul naquele ano.
Em 1997, quando foi considerado outra vez o melhor goleiro do mundo, levantou a Recopa Sul-Americana. Em 1998, ganhou novo Clausura, e seria outra vez eleito o melhor do planeta em sua posição.
APOSENTADORIA
Já em declínio no Vélez, Chila transferiu-se ao Strasbourg no início do milênio, em 2001. O mau momento não era só em campo, ao mesmo tempo, o goleiro se estranhava com o governo, com os jornalistas e com companheiros.
Em uma das cenas mais marcantes de sua carreira, chegou a cuspir no rosto de Roberto Carlos, acusando o lateral brasileiro de racismo, em uma atitude ainda assim injustificável.
Ainda teve passagens apagadas pelo Peñarol e novamente pelo Vélez antes de pendurar as luvas.
Quando aposentado, Chilavert se tornou mais uma caricatura de suas próprias declarações. Continuou prepotente e com a personalidade forte.
Contudo, nada pode apagar o passado do goleiraço. Seu pioneirismo nas bolas paradas ficou, e segue inigualável por seleções nacionais. Assim como as grandes defesas que o fizeram ser eleito em três anos o melhor camisa 1 do mundo.
Podemos dizer que ele revolucionou a posição de guarda redes.