Num Maracanã com quase 70 mil torcedores, a seleção feminina faria a última partida de um torneio disputado com excelência. 26 de julho de 2007 e o apelo das meninas de ouro que ainda eram tratadas com descaso e sem reconhecimento pelas autoridades responsáveis; por um desenvolvimento da categoria no país.
“Já vivi momentos emocionantes na minha vida. Com a medalha de prata na Olimpíada, com a premiação da Fifa de melhor jogadora do Mundo. Mas a final aqui no Maracanã foi um dia muito especial para mim (neste momento Marta começa a chorar). Não podemos deixar o futebol feminino assim, nesta situação. Há muitas mulheres ótimas no Brasil. Elas merecem todo o apoio do mundo. Espero que o futebol feminino melhore, que as jogadoras não passem mais por problemas daqui para frente.”

Jogadoras comemorando a conquista do Pan-Americano e o reconhecimento da torcida brasileira. Foto: Rafael Ribeiro
Jogadoras cansadas de falsas promessas na conquista do ouro no Pan de Santo Domingo de 2003 ou após a medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. E o desabafo acima, de Marta, a artilheira daquele Pan de 2007, demonstrava um pouco da insatisfação de uma modalidade que, a partir daquela conquista, seria enxergada pelo torcedor brasileiro.
Para se ter ideia do tamanho dessa geração, dois meses depois, o Brasil foi vice-campeão na Copa do Mundo disputada na China sem investimento algum; sequer uma liga de futebol feminino organizada em solo brasileiro.
Mas, mesmo com o esquecimento de CBF e Ministério dos Esportes, a Seleção Brasileira marcaria 33 gols e não tomaria nenhum nas 6 partidas disputadas, em 2007.
Campanha até a final
No jogo de estreia, sem Marta, a seleção aplicou a primeira goleada, em cima das uruguaias: 4 a 0, com dois gols de Daniela Alves, um de Cristiane e o último de Rosana.
Já no segundo confronto, Marta estrearia na competição e, consequentemente, a contagem de seus 12 gols totalizados ao final do torneio; 5 a 0, com dois gols de Kátia Cilene, e mais um para Daniela Alves e Cristiane. Além do gol de Marta.
Contra o Equador, passeio histórico brasileiro com quatro gols de Cristiane, quatro de Marta e um de Pretinha e Daniela Alves; 10 a 0.

Jogadoras e comissão técnica reunidas após a conquista do ouro, em 2007. Foto: GazetaPress
No jogo seguinte, contra Canadá, Marta ditaria o ritmo da partida novamente, adicionando mais cinco gols à sua contagem. Além dos feitos de Rosana e Daniela Alves. 7 a 0 para o Brasil.
Chegava, então, às fases finais da competição e com ela dois confrontos de semifinal definidos: Brasil x México e Estados Unidos x Canadá.
Para o Brasil, o jogo mais difícil de todo o torneio. Uma vitória magra por dois gols, da lateral Rosana. Já no outro jogo, 2 a 1 para a equipe estadunidense e a final tão aguardada.
A final tão aguardada
E perfeita. Goleada em cima das americanas e fim de um jejum de 8 jogos sem vencê-las, com um gostinho ainda mais saboroso de vitória contra quem tirou o ouro brasileiro nas Olimpíadas, em 2004; 5 a 0 para o Brasil e a primeira mulher a colocar os pés na calçada da fama no Maracanã, numa homenagem merecida à Marta.
Marta sendo homenageada na calçada da fama do Maracanã. Foto: Paula Carvalho
Com a visibilidade da conquista, enfim a modalidade iniciou seu desenvolvimento. Em outubro de 2007, a Copa do Brasil de Futebol Feminino fora criada, posteriormente se tornando um Campeonato Brasileiro. Uma reestruturação devagar, mas evidenciada pelas novas competições das categorias de base do futebol feminino brasileiro.
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Jogadoras celebrando a conquista da medalha de ouro, em 2007. Foto: GettyImages