A seção ‘Clubes e Política‘ desta semana vem contar a história do “novo grande” europeu, o PSG.
Trata-se do clube mais novo entre os atuais grandes europeus, e tem a sua história e a sua evolução muito ligados à elite francesa, aos mais ricos e abastados, trabalhando sempre no contexto do que chamamos de ‘hipercapitalismo’, que vem tomando conta do futebol especialmente nos últimos 20 anos. Vamos ver isso com mais detalhes.
Origens do Paris Saint-Germain (PSG)
Estamos no ano de 1969 e a maior cidade e capital da França, Paris, não tem um clube de futebol. Até existiam alguns, como o Red Star, mas bem pequenos, que não disputavam títulos.
Isso fez surgir uma vontade, na elite parisiense, de criar um clube que pudesse representar a cidade da Luz no cenário do futebol francês, então dominado por Saint-Etienne e Olympique de Marselha.
Essa vontade inicial se transformou em uma reunião de quase vinte mil pessoas, a maioria pertencente às famílias mais ricas de Paris, que usaram suas conexões políticas, especialmente entre o partido “União para a Nova República”, conservador, para tornar o sonho uma realidade.
Nasce então, em 1970, o Paris FC. Buscando rápido sucesso, a nova diretoria quis, já no início da história do Paris, comprar algum outro clube que já estivesse na primeira divisão, para disputar títulos rapidamente. Não tendo suas propostas aceitas, acaba se juntando ao Saint-Germain-en-Laye, representante do pequeno distrito de Saint-Germain, a 40 km de Paris.
Saint-Germain também representa bem a origem rica e abastada do PSG. Trata-se basicamente de uma cidade de ricos, de condomínios fechados e mansões. É, inclusive, onde o clube treina até hoje, e onde moram quase todos seus jogadores.
É quase um shopping a céu aberto, com pontos turísticos e várias lojas de grife. O clube Saint-Germain-en-Laye estava na segunda divisão, e foi aí que o novo Paris Saint-Germain começou sua história.
Evolução na França e na Europa
Depois de uma divisão interna e de uma queda para a III Liga, o PSG construiu sua história de sucesso a partir de gestões profissionais e de grandes patrocínios, sempre vinculado à elite financeira.
Um exemplo foi o Canal Plus, grande rede de TV francesa, que investiu muito no clube no início deste século. O PSG criou também uma rivalidade com o Olympique de Marselha, que pode-se dizer que é também política, já que o time de Marseille é mais ligado a ideias de esquerda, como já tratamos aqui.
Em 1974, já estava na Ligue 1 e em 1982 já venceu seu primeiro título, a Copa da França.
Craques como Raí, Weah e Ronaldinho vestiram sua camisa, mas o protagonismo na França demorou a chegar.
Veio apenas na nossa presente década, impulsionado principalmente pela compra do clube pela Qatar Investment Authority, fundo de investimento estatal do Qatar, conhecido como o país mais rico do mundo por suas jazidas de petróleo e gás natural.
Posição política do clube e da principal torcida
Várias análises consideram essa atuação do Qatar no futebol como parte desse hipercapitalismo que tomou conta do mundo da bola.
Além disso, foi também uma maneira para o país se tornar conhecido nesse mundo futebolístico, já que eram então candidatos a sede da Copa do Mundo de 2022 (que será mesmo lá).
Além dessa ligação forte com o mundo financeiro e das elites, algo que também liga o PSG ao espectro da direita é a sua principal torcida, os Boulogne Boys.
É uma torcida ultra, que se identifica como de extrema-direita. Já publicaram faixas e mensagens ofensivas à população imigrante e também do Norte da França, colocando-os como inferiores.
O grupo tem de fato um longo histórico de confusões com torcedores adversários e demonstrações claras de racismo e discriminação xenofóbica.
Em um confronto contra torcedores do Hapoel, de Israel, acabou tendo um de seus membros morto, quando um policial à paisana atirou para defender um torcedor israelense das agressões.
Oficialmente, a torcida foi extinta, mas continua em pequenos grupos e clãs que, infelizmente, seguem com a ideologia nacionalista e violenta.
Esse é o PSG, um clube que nasceu e fez sua história com a riqueza francesa.