Após uma pequena pausa de fim de ano, as “Histórias Pouco Contadas” voltam. Hoje falaremos sobre protestos no futebol, contando o exemplo do S06
Contexto
Todos lembram de Landon Donovan? Pois é, o cara foi um meia veloz e habilidoso, que se destacou com a camisa dos Estados Unidos e é considerado um dos melhores jogadores estadunidenses da história. Passou por clubes como Bayer Leverkusen, Los Angeles Galaxy e até mesmo o Bayern de Munique. A maior lembrança dos brasileiros talvez seja a Copa das Confederações de 2009, na qual, com grandes atuações de Donovan, os EUA eliminaram a Espanha e chegaram a abrir 2-0 no Brasil na final, tomando a virada no fim.
Pois então: Donovan se aposentou em 2018 e assumiu como gerente-geral e treinador (ou head coach) do San Diego Loyal, time fundado em 2019 e que disputou pela primeira vez em 2020 a segunda divisão da MLS. O time ainda está iniciando suas atividades, portanto não há muitos destaques para comentarmos aqui nas questões táticas, profissionais ou de gestão do clube. O destaque é algo ainda maior e mais importante: a luta contra o racismo e a homofobia liderada por Donovan no clube.
O protesto: não dividir o mesmo campo com racistas e homofóbicos
Todos nós acompanhamos os protestos esportivos em relação à questão racial nos Estados Unidos. Na NFL, alguns jogadores passaram a se ajoelhar durante o hino nacional, em protesto contra o preconceito no país. Colin Kaepernick, então quarterback do San Francisco 49ers, tomou a frente na questão e difundiu a mensagem (hoje está sem time). Na NBA, os protestos também começaram a aparecer, com grandes estrelas falando sobre o tema e estimulando o debate social. Houve o fatídico ato do Milwaukee Bucks, que se recusaram a entrar em quadra em jogo de playoffs contra o Orlando Magic, por conta do assassinato de Jacob Blake por um policial.
Landon Donovan mostrou sensibilidade com essas questões e também abandonou um jogo por conta do racismo. No jogo contra a equipe B do Los Angeles Galaxy, seu meia Elijah Martin foi vítima de injúria racial. O time terminou a partida, mas Donovan se recusou a assinar a súmula no fim do jogo. Para ele, é uma vergonha esse jogo ter acontecido, por isso oficialmente a partida se tornou um abandono.
E alguns meses depois, veio a atitude histórica: o San Diego Loyal conta em seu elenco com o meia Collin Martin, o primeiro jogador de futebol estadunidense a se assumir publicamente gay. Em outubro de 2020, em partida contra o Phoenix Rising, Martin ouviu ofensas verbais relacionadas à sua sexualidade por parte de um jogador do Phoenix. O fato aconteceu na parte final do primeiro tempo, e vários jogadores ouviram o insulto e protestaram. Landon Donovan entrou em campo para protestar com o árbitro e acabou sendo expulso.
Detalhe: no intervalo, o jogo estava 3-1 para o San Diego. Isso não impediu Donovan de agir. O time do San Diego até voltou a campo após o intervalo, mas só para ajoelhar no apito inicial e se retirar de campo, se recusando a compartilhar a cancha com um homofóbico.
Aspas para Donovan: “Nossos rapazes, crédito para eles, disseram que não poderíamos aguentar isso. Nós fomos muito claros naquele momento: estaríamos entregando a chance de ir para os playoffs e também a vitória contra um dos melhores times da liga. Eles disseram: não importa. Existem coisas mais importantes na vida e nós precisamos agir da forma que acreditamos. Eu tenho um tremendo orgulho desse grupo e dessa organização”.
Apesar de ter sido reportado, o ato não ganhou tanta repercussão por ter acontecido em uma liga secundária. Mas Donovan não se fez de rogado, e não recusou entrevistas ou participações em programas televisivos para falar sobre o ato liderado por ele.
Fica a mensagem: às vezes, precisamos de um pouco mais do que atos simbólicos, notas de repúdio ou mensagens com hashtags. É preciso se recusar a estar ali.