O COMEÇO DE ESQUIVA FALCÃO
Esquiva Falcão é um brasileiro com a história igual a de outros milhares de brasileiros; família com orçamento reduzido, educação e saúde precárias .
Nascido em Vitória, Espírito Santos, no dia 12 de dezembro de 1989, Esquiva foi incentivado a seguir o caminho do boxe desde cedo. Seu pai, o ex-pugilista Adegard Câmara Falcão, começou a treinar o irmão mais velho Yamaguchi Falcão. Montou uma academia improvisada no quintal da casa que moravam. Logo, Esquiva se juntou ao irmão os treinamentos.
Como os garotos não tinham luvas, saco de pancada ou qualquer material específico para o treino, apenas o pai como mentor, eles treinavam e aprimoravam socos em uma bananeira plantada no quintal. Até seus 13 anos de idade o quintal de casa era o local de treino, e ele treinava todos os dias, apoiado pelo seu velho e orgulhoso pai.
PRIMEIRA ACADEMIA DE BOXE
Depois de completar 13 anos, Esquiva se mudou para São Caetano do Sul, São Paulo, cidade que seu irmão mais velho já estava, o irmão chegara meses antes para treinar em uma academia com mais aparato e estrutura para o boxe. Sob o olhar e direcionamento de Servílhio Oliveira, primeiro brasileiro medalhista olímpico, bronze na Cidade do México, o garoto elevou seu nível técnico.
Aos 16 anos, ganhou destaque em um campeonato na cidade, só que de maneira negativa. Apesar de vencer as primeiras lutas campeonatos regionais, a competição era para boxeadores acima dos 18 anos. Apesar de contestar, sua desclassificação era iminente. Servílhio o aconselhou a voltar à sua cidade natal e retornar apenas com a maioridada civil. E assim o fez.
UM DESLIZE NA VIDA PESSOAL DE ESQUIVA
O grande problema de voltar a Vitória é que Esquiva abandonou o boxe, apesar de sua grande habilidade e técnica apurada. O jovem garoto queria ganhar dinheiro e, não tenho seu esporte como ganha pão, virou-se para o tráfico de drogas. Ele conta que chegou a andar armado e realmente pensou em continuar nessa vida.
Por obra do destino, ou o que quer que seja, o tráfico durou pouco em sua vida. Aos 18 anos foi convidado a treinar no Rio de Janeiro, pelo professor Raff Giglio, que tinha uma academia na comunidade do Vidigal. Esquiva não pensou e seguiu seu coração! Foi com Raff que o capixaba encontrou a disciplina, se dedicou como nunca antes e levou o boxe a sério.
Não demorou muito para que os bons resultados aparecessem para o jovem pugilista brasileiro. Três anos depois, Esquiva participou de seu primeiro campeonato internacional, os jogos sul-americanos de 2010, em Sabaneta, Colômbia. De cara ele conquistou a medalha de bronze, apenas aos 21 anos demonstrava uma rapidez incomun.
Mais treinos, mais suor, mais disciplina.
Seu nível havia elevado, ele foi inscrito para o campeonato mundial amador de boxe, que aconteceu em Baku, Azerbaijão. Novamente medalha de bronze e classificação direta para um sonho: Olimpíadas de Londres de 2012.
Mais treinos, mais suor, mais disciplina.
A VOLTA POR CIMA…
Chegado a data da tão sonhada competição, Esquiva se destacou além do imaginado. Disputando a categoria dos médios, até 76kg, ele estreou com uma vitória contra azerbaijanês Soltan Migitinov. Já nas quartas de final, Esquiva enfrentou e venceu o húngaro Zoltán Harcsa. Com essa vitória, o capixaba ganhou a chance de brigar por uma medalha olímpica. Nas semifinais, o pugilista ganhou do britânico Anthony Ogogo e o ouro estava “apenas” a um passo de distância. Na final, a luta foi contra o japonês Ryota Murata, mas Esquiva perdeu por apenas um ponto e conquistou a medalha de prata.
Ele não parou e se dedicou mais ainda. Com três medalhas na bagagem e com 25 anos de idade, ele tinha o direito de entrar para o boxe profissional. Nada mais justo!
Em 2014 o brasileiro iniciou sua trajetória incrivelmente vencedora no mundo do boxe. De lá até os dias atuais, Esquiva entrou nos ringues em 28 oportunidades e JAMAIS perdeu. Foram 20 nocautes e 8 vitórias por pontos durante setes anos.
O DESCASO PARA COM O ESPORTISTA BRASILEIRO
Apesar acumular números incríveis, atualmente o pugilista está trabalhando com entrega de mini pizzas no Espírito Santo, já que o calendário de lutas está parado e o apoio do governo federal não o sustenta. De acordo a PLOA 2020 (Proposta de Lei Orçamentária Anual), o atual presidente da república reduziu em 49% o orçamento do esporte, de 431 milhões para 220 milhões. Em 2021, apesar de ter aumentado, os números chegam em 292 milhões.
De acordo com Demétrio Vecchiolo, propulsor da coluna “Olhar Olímpico” da UOL:
Na PLOA 2019, por exemplo, havia R$ 70 milhões para “desenvolvimento de atividades e apoio a projetos e eventos”. Agora são R$ 37 milhões. Para a gestão do Legado Olímpico a redução foi de R$ 147 milhões para R$ 20 milhões.
Se antigamente o incentivo e apoio dos governos já era pouco, atualmente se esvai ou nem está na cabeça oca do atual presidente.