Ah, a seleção da Romênia da Copa de 1994!
Todo fã de futebol lembra, certo? Hagi, Popescu, Dumitrescu…eliminou a Colômbia na fase de grupos, a forte Argentina nas oitavas e só parou nas quartas, nos pênaltis contra a Suécia.
Essa história todos conhecem. A História Pouco Contada é de 4 ou 5 anos antes, nas eliminatórias para a Copa de 1990. Uma história que demonstra, mais uma vez, como futebol e política estão sempre envolvidos. Vem comigo.

A Copa de 1990 e a Romênia

Bandeiras da Romênia na época das manifestações
Fonte: Wikipedia

O ano era 1989. A Romênia era um Estado-satélite da União Soviética – que estava na iminência de ser dissolvida – e passava por uma situação social horrível. Governada desde 1967 pelo ditador comunista Nicolae Ceausescu, via a fome e a pobreza tomarem conta do país, o que fazia com que as fagulhas de revolta contra o regime começassem a surgir.
A maioria das nações comunistas do leste europeu fizeram suas transições de forma um tanto quanto pacífica. Não foi o caso da Romênia.
E houve aí um pouco de participação do futebol. A seleção da Romênia tinha disputado apenas duas Copas do Mundo na sua história: 1938 e 1970 (quando esteve no grupo do Brasil, inclusive).
Neste ano de 1989, a seleção estava forte e tinha chance de chegar novamente à Copa depois de 20 anos. No dia 15 de novembro de 89 jogaram em Bucareste, capital romena, Romênia e Dinamarca. Quem vencesse estaria na Copa de 1990.

A Romênia de 1990, em amistoso contra a Argentina.
Fonte: OCraiovano

A Dinamarca tinha a vantagem do empate, e era um time forte, a base que seria campeã da Eurocopa de 1992. Mas a Romênia encontrou forças, com seu país em ruínas, para vencer por 3-1, de virada. Estava de novo na Copa do Mundo.

As comemorações tomaram conta da cidade.
E ajudaram, também, a criar um clima revolucionário. Devido à situação política, não demorou para que as comemorações se tornassem protestos políticos.
A população que se juntou pela cidade viu que tinha força para reivindicar um outro país, com mais felicidades como aquela.

Revolução e ditador morto

População em tanques do Exército
Fonte: G1

Os protestos se tornaram diários, em várias partes da capital Bucareste. Como diz o jornalista Franklin Foer, no seu ótimo “Como o Futebol Explica o Mundo”: “As comemorações pela classificação da Romênia à Copa de 1990 culminaram em um grupo de atiradores apontando seus rifles para o ditador Nicolae Ceausescu e sua mulher”.
Com licença poética, foi o que aconteceu.
No mesmo mês dessas manifestações-comemorações, o ditador perdeu os maiores apoios internacionais que tinha a seu regime.
No início de dezembro, em reunião com Gorbatchev, líder da URSS, Ceausescu foi aconselhado a renunciar. Não o fez.
Em 16 de dezembro, as manifestações cresceram ainda mais em Timisoara e Bucareste. No dia 21, o ditador foi fazer um comício para anunciar novas medidas sociais, mas acabou sendo vaiado. Quando a situação começou a ficar violenta e sua polícia não conseguia mais segurar a multidão, o ditador fugiu com sua esposa de helicóptero.
O piloto, mesmo ameaçado pelos seguranças do ditador, conseguiu pousar, inventando uma falha mecânica. Com isso, entregou o ditador ao Exército, que também já havia se virado contra o regime.

Ceausescu e a esposa sendo fuzilados.
Fonte: MilitaryReview

No Natal, dia 25, depois de um julgamento que durou apenas duas horas, Ceausescu e a esposa foram condenados ao fuzilamento, que foi transmitido ao vivo pela TV.

A Romênia estava de volta à Copa do Mundo. E também, ainda que com muita violência, via nascer um novo regime democrático.

Rapaz tremula a bandeira da Romênia após o fuzilamento do ditador.
Fonte: Cartas de Bucareste