A história pouco contada de hoje do BP vem com duas homenagens: uma ao dia da Consciência Negra, que foi comemorado dia 20-11, dia da escrita deste texto; e outra a João Alberto Silveira Freitas, homem negro, covardemente espancado e morto em uma loja do Carrefour em Porto Alegre.
A história do Negritude é uma história de resistência, amizade e de luta contra o racismo.

Negritude Futebol Clube

Estamos em 10 de outubro de 1980. Cinco jovens negros (Zé Roberto, Aguinaldo, Álvaro, Douglas e Osvaldo), moradores da Cohab, se conhecem e montam um time, de improviso, para jogarem nas quadras da Cohab I. No famoso esquema “10 minutos ou 2 gols”, com vários times na espera, eles entram em quadra e só saem no fim do dia. Nenhum outro time conseguiu tirá-los da quadra por várias horas. Depois do grande feito, os cinco se encontraram no baile black e decidiram formar um time para jogar na famosa várzea paulistana. Estava fundado o Negritude Futebol Clube.
Já no primeiro campeonato, o título: a Copa Cohab de 1980. O Negritude nasceu vencedor e também militante. Sempre carregou a bandeira racial do movimento negro. Colocaram no uniforme um rosto com cabelo black power e sempre reverenciam, na camisa ou nas bandeiras, grandes personalidades negras como Malcolm X, Mandela ou Martin Luther King. A faixa de maior destaque na torcida do Negritude tem 30 metros de comprimento e traz os dizeres: “Mandela, guerreiro da paz”.

Subversivos

Mas não nos esqueçamos: estamos em 1980, tempos de ditadura. E o Negritude sentiu o peso da repressão. A estética do time foi considerada muito transgressora e em 1982 o nome acabou sendo rejeitado pela Federação Paulista, então presidida por Nabi Abi Chedid, que era filiado a ARENA, partido dos militares. O motivo: o nome poderia ameaçar a ordem social e trazer embates raciais. O jeito foi jogar por 4 anos como Alvinegro F. C.
Só em 1986 o time conseguiu registrar seu nome original. E foi o ano de maior destaque do Negritude: chegou ao famoso campeonato da várzea paulistana, o Desafio ao Galo. O certame era até transmitido na TV, na época pela Record. Todo bairro paulistano tinha seu time ou sua torcida. O Negritude encantou pelo futebol jogado e pelos símbolos que carregava e ficou em terceiro lugar. Tornou-se famoso no mundo da várzea e chegou até a excursionar pelo interior paulista.
O time tem até jogadores famosos que passaram por lá: Dodô, o artilheiro dos gols bonitos. Zé Ricardo, que jogou no São Caetano, e também craques do futsal que hoje estão na Europa, como Juninho e Clebinho.

Time Negritude

Time de várzea Negritude
Reprodução: Internet

Hoje, o Negritude sentiu a quase profissionalização da várzea da capital e perdeu um pouco da sua força. Precisa buscar jogadores em outros bairros e cidades, pois os destaques acabam sendo contratados por times maiores do mundo varzeano. O presidente é Zé Roberto, um dos garotos fundadores, que se dedica ao time já faz 40 anos.
Mas a tradição antirracista não se perde: o time segue com sua estética e seus símbolos. Lançou, este ano, uniformes homenageando Kobe Bryant e também o ator Chadwick Boseman, o eterno Wakanda Pantera Negra. A mensagem segue sendo entregue ao público.