Dando continuidade a nossa série de situação financeira dos clubes brasileiros, iremos falar dos times nordestinos da Série A, a primeira parte foi sobre os clubes mineiros.

Para você que chegou agora, é importante salientar  que esses números e análises são de Rodrigo Capelo através de seu blog e podcast, o qual recomendamos fortemente.

Bahia

Talvez seja o clube nordestino que mais cresceu na última década.
Com linguagem social e reformulação política, administrativa e financeira fora de campo, os resultados do tricolor de aço começaram a aparecer e o Bahia se agarrou na primeira divisão.
Essa estabilidade é um dos segredos para se manter com um planejamento para os anos seguintes, porém agora os sonhos começam a ser outros. A torcida do tricolor de aço não se contenta apenas com a manutenção na série A, querem mais!

Com isso, veio o aumento de investimento em 2019 por parte da diretoria, mas a saída precoce na Copa do Brasil – na primeira fase – não estava nos planos. O endividamento acabou crescendo 23% (passou de R$ 207 MM para R$ 254MM), já o faturamento caiu 43% (de 189MM para 107 MM).

Além de perder com a mídia após a eliminação da Copa do Brasil, o Bahia não teve grandes vendas de jogadores, aliás, essa não é uma força do Bahia, pelo menos nos últimos 20 anos. O clube baiano não investe tanto em categorias de base. Até dava sinais de que ia começar a investir mais, mas com a chegada da pandemia o clube diminuiu novamente o patamar de investimento.

Em 2018- investiu 10,6 MM
Em 2019, investiu 13,5 MM
Em 2020, investiu 8,1 MM

Os motivos citados anteriormente, mais a falta de bilheteria, fizeram com que o Bahia não alcançasse a arrecadação prevista pela diretoria para 2020, R$ 179 milhões. No fim das contas, acabou em R$ 131 milhões.

Com tudo isso, vimos que a situação financeira do Bahia não é das piores, só não podemos dizer que esta muito controlada por conta da pandemia do último ano, mas vale o sinal amarelo aqui e vermos como o tricolor baiano vai se comportar daqui em diante. O caminho é de se consolidar no cenário brasileiro (financeiramente).

Ceará

Se o Bahia foi o time nordestino que mais cresceu nas últimas décadas, o Ceará talvez seja o com maior crescimento nos últimos anos. Claro que isso não quer dizer que o alvinegro não tenha passado por problemas financeiros na pandemia. O clube se endividou, assim como a maioria, porém nada fora de controle.

Segundo Robinson de Castro, presidente do Ceará, o clube será o principal clube do nordeste brasileiro em cinco anos ou menos.

Isso porque a arrecadação (faturamento) cresceu consideravelmente nos últimos anos (28MM para 103MM), já o endividamento, que era de 15 MM em 2019, foi para 35 MM em 2020. O Ceará é o primeiro time que mostramos aqui que tem mais faturamento do que endividamento, porém o faturamento ainda é menor do que o do Bahia.

No comparativo entre orçado e realizado, o Ceará, mesmo em meio a pandemia, conseguiu atingir o patamar que precisava, mesmo com a perda da bilheteria, que todos os clubes tiveram, não cometeu loucuras, diminuiu sua folha salarial no período de pandemia, e teve uma venda, a de Arthur Cabral, que arrecadou R$ 27 MM.

De fato, o Vovô tem uma administração de tirar o chapéu, não “nada” em dinheiro e nem tem dinheiro sobrando, mas sabe lidar com suas contas e se continuar assim manterá um crescimento interessante.

Se será o maior do nordeste ou não, não sabemos, até porque muitos clubes nordestinos estão com administrações positivas e isso é excelente! A derrota para o rival Fortaleza na Copa do Brasil pode atrapalhar as finanças do Ceará nesse ano, mas vamos ver como a instituição se comporta.

Fortaleza

O Fortaleza, assim como seu rival Ceará, também vem de anos esportivos satisfatórios, porém quando vamos a questões administrativas o lado tricolor da capital cearense teve uma queda. Isso porque a arrecadação foi menor do que em outros anos.

Podemos colocar isso na conta da pandemia, obviamente. O Fortaleza teve queda na publicidade no entorno do campo, sua receita de sócio-torcedor caiu, patrocínios caíram 1,2 MM com relação à temporada anterior e, claro, a bilheteria não existiu.
O que salvou a arrecadação foi a venda de atletas, Everton Cebolinha gerou um efeito positivo e com isso o clube cearense atingiu o dobro de receita no comparativo com a temporada anterior.

A receita do Fortaleza caiu de 115 MM em 2019, para 83MM em 2020, já o endividamento saiu de R$ 35 MM para R$ 45MM. Uma coisa que Capelo inclusive cita em seu podcast é que essa diferença entre Ceará e Fortaleza na arrecadação é muito por conta dos direitos de TV, em que o Fortaleza negociou ainda na série C com a Turner e o Ceará tem contrato com a Globo. Isso faz com que os ganhos da equipe tricolor sejam menores.

O Fortaleza investe cerca de R$ 2 MM por ano na base, muito menos do que alguns clubes de série A. Isso, a médio e longo prazo, pode trazer problemas. O que podemos dizer é que o Fortaleza vem de uma administração muito boa e se mantiver assim poderá ir longe. Com pés no chão, sem se arriscar muito e ir atrás de melhores colocações com muita sede ao pote.

O sinal está amarelo, mais pelo azar de uma pandemia do que apenas por competência, mas vale esperar e acompanhar os próximos anos. Por aqui, torceremos por um Fortaleza cada vez mais forte.

Sport, Vitória, Náutico, Santa Cruz e demais clubes nordestinos!

Infelizmente não temos uma análise aprofundada por parte de Capelo. Segundo ele, a diretoria do Sport e Vitória não apresentaram o balanço do ano, o que a meu ver é muito prejudicial a nós torcedores que queremos saber do clube que amamos.

Curiosamente, o Vitória, que já figurou em grandes finais brasileiras, e o Sport, talvez o clube que vinha mais batendo de frente com o eixo do sul nos anos anteriores, vivem uma crise grande.
Queremos esses clubes figurando e brigando como sempre. Vamos cobrar essas diretorias!