CONTEXTO DA PARTIDA
Em um jogo de pouquíssima valia para os dois lados em relação a ambição de caneco brasileiro, um dos jogos mais eletrizantes e bonitos da década aconteceria no Templo Sagrado do Rei. Numa quarta-feira de julho, em 2011, a décima segunda rodada do campeonato brasileiro reservou o confronto entre Santos e Flamengo.
O Santos, com a ressaca do título da Libertadores conquistado há praticamente 1 mês, não priorizava o campeonato nacional e contentava-se com o meio de tabela, já pensando no mundial como concentração. Já o Flamengo, campeão carioca e até então na Sul-Americana, buscava pelo menos uma vaga para a Libertadores do ano seguinte.
E, apesar de elencos interessantes e dois craques no gramado; Ronaldinho Gaúcho, um dos maiores jogadores da história do futebol mundial já em fim de carreira, e Neymar, recém-campeão do maior título da América, já em passos largos para marcar seu nome no Brasil e, dois anos depois, no futebol europeu, ninguém esperava que a Vila Belmiro seria palco de mais um, de tantos espetáculos que aconteceram ali.
O JOGO
4 minutos após o apito de André Luiz de Freitas Castro, Elano acharia Borges entre os zagueiros para dominar e marcar o primeiro. 1 a 0 para o mandante. Até os 14’, Ronaldinho finalizou duas vezes com perigo, já dominando as ações ofensivas do Clube de Regatas. Mas no lance seguinte, Ganso em seus tempos magistrais pifou Neymar cara a cara com Felipe, que defendeu a cavadinha tradicional do camisa 11, mas não conseguiu impedir o passe desengonçado de bicicleta e escorada de Borges. 2 a 0.
O Flamengo precisava reagir. E aos 20’, após cruzamento rasteiro para a área santista, Deivid erraria um dos gols mais feitos de sua carreira, o qual é lembrado ainda hoje pelo ocorrido. Somente a bola, o gol e sua canela, que reagiria de maneira imprecisa na reação. Bola para fora.
Aos 25’, o gol com o drible que não se descreve porque nem o próprio autor conseguiu explicar. O prêmio Puskas daquele ano já tinha dono e saiu dos pés de Neymar. 3 a 0 e 25 minutos de um time pulsante. Mas a reação do time visitante seria rápida. Aos 28’ e 31’, após cruzamento e falha de Rafael e Edu Dracena, Ronaldinho abriria o marcador rubro-negro na noite e Thiago Neves, de cabeça, faria o segundo. 3 a 2.
Num jogo muito aberto, Ganso e Thiago Neves finalizam com perigo, mas o pênalti em cima de Neymar, aos 40’, traria a possibilidade de ampliar o placar, indo para o intervalo com mais tranquilidade para a segunda etapa. Elano, o mais experiente daquele grupo, decidiu ‘brincar’ na cobrança de cavadinha. Felipe, sem se mexer, defendeu a batida e devolveu a provocação com embaixadinhas. Placar inalterado.
E aos 43’, Deivid no primeiro pau se redimiu de cabeça, após cobrança de escanteio. O sexto e último gol daquela metade de jogo.
Quase que no mesmo tempo do primeiro gol da partida, aos 5’ Neymar acertaria dessa vez a cavadinha em cima de Felipe, após outro passe de Paulo Henrique Ganso. 4 a 3.
Porém, o que se imaginava seria um controle maior da equipe mandante a partir daquele momento, numa espécie de “aprendizado com os erros”, no caso, os do primeiro tempo. Mas o flamenguista acreditava na reação. E Ronaldinho também.
Aos 22’, logo após uma série de dribles e falta em frente à área do Santos, o camisa 10 que conquistou o mundo com sua magia, mais uma vez enganaria o adversário com uma cobrança rasteira embaixo da barreira, no canto esquerdo de Rafael. 4 a 4.
E aos 35’, não satisfeito com placar igualado, Ronaldinho chutou colocado e cruzado nas redes alvinegras depois do passe de Thiago Neves. 4 a 5 e um dos melhores roteiros futebolísticos não-programados da década. Dois clubes históricos demonstrando em campo, naquele dia 27 de julho de 2011, o que Nelson Rodrigues sintetizaria como “a partida do homem brasileiro”.