A seção “Histórias Pouco Contadas” de hoje traz uma superstição que é até famosa, pelo menos nos países de língua espanhola: a maldição de Kiricocho.

A história voltou a ser contada por conta do zagueiro italiano Chiellini, que “invocou” a maldição na disputa de pênaltis da final da Eurocopa contra a Inglaterra. Sim, a história saiu da Argentina e se tornou global. Vem que eu te conto.

Juan Carlos Kiricocho, o amaldiçoado

Estamos em La Plata, 1981. O time do Estudiantes, treinado pelo lendário técnico argentino Carlos Bilardo, vive um momento de ostracismo. Depois de ser tricampeão consecutivo da América em 1968, 1969 e 1970, o clube vivia tempos de dificuldade e não disputava títulos.

Bilardo treinando o Estudiantes
Fonte: TyC Sports

Eis que aparece um personagem peculiar: um rapaz, chamado Juan Carlos, apelidado de Kiricocho, passa a morar perto do estádio do Estudiantes e com isso pega o costume de aparecer para assistir alguns treinamentos no período da manhã durante a semana.

Carlos Bilardo, além de um treinador histórico, é conhecido na Argentina por ser muito supersticioso. E ele e sua equipe começaram a perceber que Kiricocho talvez fosse o que os argentinos chamam de “mufa” – aquele que traz má sorte, energias ruins -; no Brasil, o famoso azarado.

Basicamente, em todo treino que Kiricocho ia assistir, um jogador do Estudiantes se machucava.

Os jogadores também perceberam e até chegaram a pedir o banimento do rapaz nos treinos. Mas Bilardo foi mais esperto e resolveu usar o azar do rapaz a seu favor.

Kiricocho, o mascote

Bilardo fez o impensável: adotou o azarado Kiricocho como mascote do time. A atribuição do rapaz era simples: quando os adversários do Estudiantes estivessem em La Plata, Kiricocho deveria ir a todos os treinos deles.

E mais: na recepção ao adversário no hotel de La Plata, o azarado rapaz deveria participar das boas-vindas ao time rival, se disfarçando como torcedor e dando uma palmada de ‘alento’ em cada jogador.

Fanático pelo Estudiantes, o rapaz cumpriu seu papel. E o incrível é que deu certo. Naquela temporada (1982), o Estudiantes foi campeão argentino depois de 15 anos, perdendo apenas um jogo na temporada. E quem conta a história diz que essa única derrota foi em um jogo onde Kiricocho não pôde estar presente.

O Estudiantes de 1982
Fonte: Radio Mitre

Kiricocho virou lenda, até porque depois dessa temporada não mais apareceu. Bilardo diz que não o viu mais e que quando voltou a La Plata, já em 2003, perguntou pelo rapaz mas ninguém sabia dele.

Kiricocho ficou famoso

Jornal conta a história de quando Pellegrini e Casillas, no Real Madrid, usavam a maldição.
Fonte: Diario El Día

A maldição de Kiricocho ficou muito famosa pela Argentina e se espalhou principalmente pelos países de língua espanhola. É usada principalmente em pênaltis ou em jogadas de grande perigo. Tenta-se invocar a maldição do rapaz de La Plata gritando “Kiricocho” no momento do lance.

Alguns meses atrás, o goleiro Bounou do Sevilla gritou a maldição para o atacante Haaland, do Borussia Dortmund, durante uma cobrança de pênalti. O atacante norueguês fez o gol e respondeu, o que quase causou um atrito.

Haaland fica bravo por ter sido almaldiçoado pelo goleiro Bono.
Fonte: Hesgoal

E a história voltou a ser contada por conta de Chiellini, na final da Eurocopa, que gritou a maldição para o último pênalti, de Saka, que foi defendido por Donnarumma e deu o título à Itália.

É mais uma dessas histórias que constroem o futebol. Se você for em algum estádio argentino, não estranhe os gritos de invocação a Kiricocho. Tudo que se quer é o azar do rival.