Chegou a parte 6 da nossa  série que fala sobre os balanços dos clubes brasileiros. Não somos especializados no assunto, somos torcedores e curiosos, mas trazemos números e análises de quem entende do assunto.

A fonte é o podcast Dinheiro em Jogo, do excelente Rodrigo Capelo. (@rodrigocapelo)

Hoje a segunda parte do Rio de Janeiro com Flamengo e  Fluminense.

Importante dizer que aqui não há nenhuma preferência por A ou B, portanto, se você torcedor ficar chateado com números de balanços peço que não coloque a culpa em nós, rs! Cada um de nós temos nossos times e nem tudo que vemos nos agrada! Para ver o ep 5, clique aqui (Botafogo e Vasco)

Flamengo

Tanto no âmbito esportivo quanto econômico, o Flamengo divide os holofotes dos últimos anos com o Palmeiras, e pelo jeito “não largará o osso tão cedo”. Vamos entender o clube da Gávea e seu balanço de 2020.

Por mais que tenha alcançado o maior faturamento do futebol brasileiro, os custos do time são altíssimos, e ainda que venda jogadores como Gerson, Renier e Vinicius Junior por valores exorbitantes, também aumenta seu custo com contratações.

Depois de um longo período de recuperação financeira, em que reduziu aos poucos suas dívidas, o clube de maior torcida do Brasil virou a chave para investimento pesado em atletas.

Bom que se diga que, esportivamente a investida trouxe sim resultado, e com eles um clube com torcida exponencial como esse tende a ter um faturamento alto.  E essa era aposta de Landim e sua turma, o Flamengo é o único time brasileiro a se aproximar de um faturamento de 1 BILHÂO DE REAIS na história.

Mas veio a pandemia.

Flamengo

Relação Receita x Divida
Reprodução: globo.com

 

A conta é simples, 2019 foi mágico, o clube chegou a aumentar seu endividamento em 31%, porém seu faturamento deu um salto de 64%. Já em 2020, sua receita despencou e seu endividamento continuou crescendo, ou seja as linhas trocaram de lugar pela primeira vez, depois de 2016.

Mas não nos esqueçamos que 2020, foi “cortado pela metade”, como já mencionamos aqui anteriormente nas análises de outros times. Como os campeonatos só acabaram em 2021, parte relevante das receitas aparecerão no levantamento de 2021.

Receita

Na TV, por exemplo, 30% estão condicionados á posição na tabela do campeonato, e o Fla foi campeão brasileiro. Isso significa que o clube carioca tem no mínimo R$ 35 milhões adiados no balanço, além do número de partidas transmitidas e ppv, ou seja, tem grana para contabilizar ainda.

Por outro lado, a saída precoce da Copa do Brasil e Libertadores fizeram o Flamengo diminuir o patamar de suas receitas. Entenda, aqui equiparamos o que o clube pode fazer e o que ele faz, e nas projeções o Flamengo contava com uma maior “sorte”.

Nas bilheterias o clube saiu de R$ 109 milhões em 2019, para R$ 27 mi em 2020, total culpa da pandemia, e por mais que tivesse um aumento pequeno de sócios torcedores, o número de arrecadação não foi o bastante.

Outro ponto positivo e bem trabalhado pela diretoria alvinegra é o aumento na área de marketing e comercial do clube com R$ 20 milhões a mais em patrocínio e fornecedor esportivo. Ou seja, enquanto a maioria perde patrocínio diante do cenário da economia mundial, o clube carioca, ganhou!

Mas o que o Flamengo se destaca no Brasil é venda de seus atletas, e nos últimos anos vendeu joias por valores que torcedor nenhum pode botar defeito.

Valores brutos, antes dos descontos, foram esses (Fonte: Blog do Capello)

R$ 139 milhões – Reinier

R$ 24 milhões – Pablo Mari

R$ 16 milhões – Vinícius Souza

R$ 10 milhões – Caio Roque

R$ 5 milhões – Matheus Sávio

Com todos esses pontos acima, um time que vem em uma velocidade grande, fica mais difícil de frear, o planejado de receita era 722 Milhões, mas o Flamengo chegou a R$ 595 (contando apenas 2020), mesmo que conte com 2021, dificilmente chega ao que planejou, muito por conta da queda nos campeonatos e claro, pandemia.

O endividamento rubro negro a curto prazo ( que precisam ser pagos em menos de um ano), apresentam um aumento rápido nos últimos anos, sendo que em 2021, o valor chega a R$295 milhões, por isso o clube se viu obrigado a vender um jogador como o excelente Gerson.

Entenda:

Em 31 de dezembro de 2020, o Flamengo tinha:

– R$ 346 milhões em dívidas de curto prazo

– R$ 51 milhões disponíveis em caixa e equivalentes

 

Em 31 de dezembro de 2020, havia, também no curto prazo:

– R$ 100 milhões a receber por atletas vendidos

– R$ 26 milhões a receber por patrocínios e licenciamentos

O Futuro

Com a maior torcida do Brasil e se ajustando como está fazendo, o Flamengo tem tudo para continuar como o maior faturamento do futebol brasileiro por anos.

Os acompanhamentos de finanças de grandes instituições, mostram um Flamengo que apostou bem na compra de Pedro e Gabigol, mas que precisa pagar por esses investimentos e tem tudo para fazê-lo.

Talvez seja por isso, que Landim, brigue tanto por volta de torcida aos estádios.

Fluminense

Anos atrás munido pelo dinheiro de Celso Barros na Unimed, o Flu ganhou muitos títulos e trouxe grandes jogadores para vestir o manto tricolor. Mas esse tempo passou…

Mario Bittencourt, há dois anos como presidente do clube, recebe ligações toda semana para renegociar dívidas com credores. Como a instituição está muito endividada, a dificuldade em honrar os compromissos é latente.

Segundo o dirigente, as dívidas tricolores tendem a ser equacionadas em nove anos, mas isso não quer dizer totalmente quitadas, e sim administradas.

Por isso, o tricolor usa Xerém como poucos clubes no Brasil, mas o presidente não corta o investimento em atletas, por acreditar que sem o sucesso esportivo e uma queda para série B, seus planos de administração iriam por água abaixo,

“Diferentemente de uma empresa como outra qualquer, um clube de futebol precisa de resultado para ter receita. Se a gente caísse para a Série B em 2019, nossa receita de TV cairia de R$ 88 milhões para R$ 7 milhões. Aí o clube entraria em colapso. Isso é até uma coisa que a gente tenta explicar para os juízes quando nos penhoram. Eles falam: “ah, mas vocês contrataram jogador tal”. E a gente tem que explicar que não adianta baixar o nível do time, porque aí não tem receita e não vou conseguir pagar as dívidas, nem as contas do dia a dia” – disse Mário.

Quando falamos de arrecadação o time das Laranjeiras se vê obrigado a dar alguns passes para trás, depois de quatro anos em uma média de R$ 250 milhões, o clube teve R$ 170 MM em 2020. Tudo bem, a pandemia ajuda a trazer esse cenário, mas o que assusta mesmo é a diferença entre endividamento e faturamento com o passar dos anos.

 

Fluminense

Receita x Divida do Fluminense
Reprodução: globo.com

 

Assim como os demais clubes (com exceção dos rebaixados), o Fluminense tem valores a contabilizar do Campeonato Brasileiro que terminou apenas em 2021, ou seja,  mais de R$ 30 milhões, por terminar na quinta posição, o que também ajudou consideravelmente foi o fato do clube voltar a Libertadores, com uma premiação gorda.

Porém a prematura queda na Copa do Brasil em 2020, prejudicou demais a arrecadação do que chamam de arrecadação com mídia do Fluminense.

Sobre a parte de patrocínio e área comercial é que está o maior buraco dos tricolores, e, após a saída da Unimed, o clube ainda não conseguiu se reencontrar. Já na bilheteria, a quantia que recebia pré -pandemia, quando comparada a seu rival Flamengo já era 179% menor (109 MM x 16 MM), mas em 2020 caiu para R$ 3 milhões em bilheteria.

O Futuro

Para o futuro, é preciso ter um presidente que não entre em oba-oba e cometa loucuras para que não se equipare a Vasco e Botafogo e suas crises, mas há de se entender o seu momento e ver que as receitas do clube são mais baixas de que de adversários diretos. A desigualdade no futebol carioca é a maior da história!

Mesmo assim o Fluminense fez uma temporada acima das expectativas em 2020, isso levando em conta todos os âmbitos (Politico, financeiro e esportivo), mas é preciso manter os pés no chão e seguir o planejado por Mario Bittencourt com nove anos.

É difícil, mas o torcedor tricolor precisa ter paciência, para voltar as suas épocas de glórias.