O sábado chegou e é dia de conhecer ou ler mais sobre uma história pouco contada do futebol. Hoje, a história dessa seção se mistura um pouco com a seção ‘Clubes e Política’, pois envolve o Celtic da Escócia, time com uma história ligada ao progressismo (você pode ler mais sobre o Celtic AQUI); e a Lazio, clube italiano conhecido por sua torcida ultra de extrema-direita, os “Irriducibili”, declaradamente fascistas (também tem textos sobre a Lazio, AQUI). O protagonista é Oliver Ntcham, jogador francês de 24 anos, que atua pelo Celtic. Vítima de racismo, o cara se vingou em grande estilo. Vem comigo que te conto.

 

O contexto: Celtic x Lazio, confronto político

 

Estamos na fase de grupos da Liga Europa de 2019. Celtic e Lazio caem no mesmo grupo, e as forças de segurança na Itália e na Escócia se preparam para jogos quentes, pois sabem que as ideias das duas torcidas são bem diferentes, o que poderia resultar em confrontos.

O primeiro jogo foi na Escócia, no Celtic Park. Os ânimos estavam aflorados e houve relatos de brigas no lado de fora do estádio. Na hora do jogo, tudo estava mais calmo, até que a torcida fascista da Lazio resolveu agir de modo ousado: entrar no campo ao som de cânticos fascistas. O troco veio na hora, pois a torcida escocesa estava preparada: silenciaram os cantos com suas próprias músicas e estenderam uma faixa com a foto de Mussolini sendo enforcado, junto com os dizeres “Follow your Leader”, ou seja, “Sigam seu líder”.

Torcida do Celtic (de Ntcham) e sua bandeira com Mussolini enforcado

Os escoceses se deram bem tanto na manifestação quanto em campo: 2-1 para o Celtic

 

A volta na Itália: ânimos exaltados

 

Mas é claro que a história não terminaria ali: no jogo de volta, no Estadio Olímpico, os Irriducibili buscariam vingança. Nos arredores do estádio, o policiamento foi reforçado e o clima ficou tranquilo. Porém, em um bar perto do estádio, dois torcedores do Celtic que não conseguiram ingresso foram esfaqueados por torcedores da Lazio durante a partida. Ambos foram hospitalizados e ficaram bem.

Em campo, o inevitável: com o jogo empatado em 1-1, Ntcham foi chamado do banco pelo treinador aos 22 minutos do segundo tempo. Ainda antes de entrar em campo já começou a ouvir insultos racistas, que continuaram durante todo o restante do jogo. Mas, aos 42 minutos do segundo tempo, os deuses do futebol escreveram mais essa história: Ntcham recebeu sozinho no lado direito da área, avançou e deu a cavadinha por cima do goleiro. Na comemoração, a vingança: primeiro Ntcham fez o sinal de silêncio, mandando os racistas se calarem. E depois fez a acrobacia, como se fosse uma bananeira, imitando a posição de Mussolini durante seu enforcamento.

Um ato de coragem, de provocação, um ato importante e político. Naquele dia, o Celtic venceu duas vezes: em campo por 2-1 e politicamente, calando os fascistas pelo menos por algum tempo.

Ntcham faz bananeira com alusão a Mussolini enforcado.